sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Nova Ciclorrota de Lazer será inaugurada este domingo

Nova "estrutura", sempre pensando nas pessoas de bem. #recifecidadedaspessoas



Ordem e Progresso
A Prefeitura do Recife vai inaugurar esta semana uma nova "estrutura" cicloviária, a Ciclorrota de  Turismo e Lazer, aos domingos. A diferença entre as "estruturas"  - ciclofaixa e ciclorrota - consiste na separação do espaço destinado aos carros e às bicicletas. Enquanto na ciclofaixa - encontrada comumente no Recife aos domingos - há tachões ou cones, na ciclorrota temos apenas a pintura no chão e placas indicando o espaço preferencial para bicicleta, mas que pode ser utilizado também pelos carros. <3

Após mais de um ano de sucesso da ciclofaixa de domingo, com milhares de usuários semanalmente, o Secretário de Mobilidade João Braga, aproveitando a solicitação do TRE PE de retirar a Ciclofaixa de Lazer no domingo de eleição, sugeriu à Secretaria de Turismo o lançamento da Ciclorrota de Turismo e Lazer no próximo dia 26, iniciando uma nova fase no desenvolvimento da bicicleta como modal de transporte na capital. "Braga veio nos trazer esta bela proposta. Todo mundo junto no trânsito, sem engarrafamento, sem segregação, com preservação das vagas de estacionamento. Aceitamos prontamente. E queremos trabalhar cada vez mias unidos com a visão moderna de política de mobilidade da Secretaria de Braga. É o princípio constitucional da igualdade aplicado nas ruas do Recife. Somos todos iguais no trânsito, não é mesmo?".

Diante da grande proteção comprovada que a "estrutura" traz para os novos usuários da bicicleta do Bairro do Campo Grande, na rua Carlos Fernandes, a prefeitura quer testar este tipo de "estrutura" - ciclorrota -, sem conesnem tachões, apenas com placas de sinalização, por toda a cidade, incluindo agora também o público diferenciado #daBike do fim de semana.

Em entrevista, o secretário de mobilidade reafirmou os ideais de sua pasta:
"Verificamos que nas ciclorrotas o fluxo de veículos é muito maior. Pudemos comprovar isso nos trechos das estruturas que já inauguramos com ciclorrota pela periferia da cidade, com bastante sucesso. São poucos os conflitos entre motoristas e ciclistas no Recife, nosso povo é muito cordial". 

"Tamo junto, Braga!"

No último domingo, fomos à Ciclofaixa de Lazer, saber a opinião de alguns ciclistas de fim de semana, e a receptividade parece boa. Felipe Carreatas utiliza a bicicleta religiosamente todo domingo, e se diz ansioso pela nova ciclorrota. "Todo domingo estou desde cedo, já tomando café da manhã com meus equipamentos de proteção, ansioso pela ciclofaixa. Tenho certeza que agora, com a ciclorrota, sem esses cones nem os orientadores, podemos ter uma aproximação maior com os motoristas. Tem espaço pra todo mundo na rua. Achei muito boa a ideia".
João Hamildo, jornalista e empresário do ramo de imóveis, mora na Rua José Maria, mas disse não se sentir seguro pra chegar na ciclofaixa de lazer. "Não tem ciclorrota aqui na Zé Maria. Sempre vou de carro até o Parque da Jaqueira, mas com a Ciclofaixa de Lazer fica difícil achar onde estacionar o carro para tirar a bicicleta. Acabo tendo que estacionar na calçada, mas sempre com medo da indústria de multas. A prefeitura deveria aproveitar e transformar também a atual Ciclofaixa de Lazer definitivamente em Ciclorrota de Lazer, pra sobrar mais espaço para a família pernambucana chegar até as vias contempladas com a estrutura, com a garantia do estacionamento." Parece que a prefeitura ouviu as preces de João Hamildo. Braga deixou o recado para a sociedade recifense. Mudanças vêm por aí e as metas são ousadas:
"Veja bem. Definimos nosso plano de ação nas ciclorrotas ou rotas cicláveis. Acabou a vez do automóvel nesta cidade. Vamos encher as ruas de desenhos de bicicletas e de placas indicando a passagem de bicicletas por elas. Em vez dos 76km de ciclofaixa e ciclovia prometidos, mudamos nossa estratégia e vamos fazer 401km de ciclorrotas. Pela cidade inteira, o motorista terá que aprender a dividir espaço com os ciclistas, e o ciclista com o motorista também, claro! Por que não?"
Perguntado sobre alguma relação entre esse cabalístico número "401" e os 400km de ciclovias e ciclofaixas de São Paulo, o secretário desconversou. Mas soltou o desafio no final da entrevista "Haddad está fazendo estrutura cicloviária no improviso. Não se brinca com isso. No Recife a gente estuda bastante antes de implementar uma estrutura. E nossos estudos demonstraram a superioridade técnica da ciclorrota sobre as ciclofaixas e ciclovias. Fizemos também uma pesquisa na Estrada do Encanamento e Estrada do Arraial e a aprovação das ciclorrotas superou nossas expectativas. Lembro também que em São Paulo Haddad vai tirar 40 mil vagas de automóveis, gerando um grande transtorno para a população. Nós temos consciência da dificuldade de se encontrar onde estacionar o veículo no Recife e não vamos gerar esse ônus pra população."

As primeiras ciclorrotas, segundo a CTTU, serão lançadas na Av. Agamenon Magalhães, no Viaduto Capitão Temudo, entrando pela Via Mangue até Setúbal, já em novembro. A medida visa prover aos ciclistas de domingo a mesma segurança e atenção dada aos ciclistas que usam a bicicleta diariamente na periferia. O secretário confirmou "a ideia é dar igual tratamento a todos os usuários de bicicleta da cidade, corrigindo-se assim o erro da gestão com a Ciclofaixa de Lazer".

De fácil implementação e com necessidade de poucos recursos, as placas de aviso podem ser instaladas em poucas horas, explicou João Pompeu, funcionário da CTTU. "Já nos reunimos com o Secretário e está tudo definido, planejado, estudado. Vamos começar com a Ciclofaixa de Lazer neste domingo porque a estrutura já está lá. Basta não colocar os cones, deixar como é todo dia de semana. Sem a perda de vagas de estacionamento, está garantido o acesso de toda a população às ruas contempladas."


Nos corredores da prefeitura, já se comenta que Geraldo Júlio cogita a fusão das duas secretarias, Mobilidade e Lazer. A aposta é de que Braga vai acumular as duas pastas. Se se confirmar a fusão, desejamos sorte ao secretário em sua nova função, e esperamos encontrá-lo neste domingo indo votar de bicicleta, inaugurando a nova "estrutura".

terça-feira, 7 de outubro de 2014

"Aqui só funciona domingo, amigo."

Quem nunca ouviu?

É só domingo, né?
"É só domingo essa ciclofaixa"
"Não vê que não tem cones"

Você já ouviu alguma dessas frases, seja numa ciclofaixa permanente, ou na ciclofaixa de lazer durante a semana.

Deveríamos fazer uma pesquisa pelas cidades do país sobre os motivos que fazem as pessoas invadirem com seus carros as ciclofaixas. Por que afirmam que a estrutura permanente só funciona no domingo? A princípio, podemos dizer se tratar simplesmente de falta de educação, mas não é tão simples assim. Em primeiro lugar, existe em muitas pessoas ainda a percepção da bicicleta como equipamento de lazer, destinando-se ao uso em passeios noturnos ou para as ciclofaixas de lazer de domingo. Já começa por aí uma área na qual a prefeitura poderia dar uma mãozinha, quebrando esse preconceito sobre a bicicleta. Qualquer ideia simples, como colocar dois agentes de trânsito rodando pelas ciclofaixas desconstruiría essa ideia de bicicleta somente no domingo e pra lazer. Recife tem, com a nova ciclofaixa PERMANENTE no bairro de Campo Grande, pouco mais de 27km de estrutura cicloviária protetiva para o ciclista - ciclofaixas e ciclovias -, o que é muito pouco não só para servir à população, como também para o reconhecimento das estruturas.

Para que os motoristas possam respeitar as ciclofaixas permanentes, eles precisam antes de mais nada saber que aquela estrutura se trata de uma ciclofaixa que funciona 24h todos os dias da semana. É notório que os motoristas não têm o costume de ler as placas, a sinalização vertical no perímetro urbano. Tem estudo sobre isso. Mas como fazê-lo reocenhecer uma estrutura se ele não lê se na placa está escrito "Ciclofaixa" ou "Ciclofaixa. Domingo, de 7h às 16h"? Na figura abaixo, podemos comparar três estruturas distintas: ciclofaixa permanente, ciclofaixa de lazer (domingo) e ciclofaixa de lazer em rua que tem ciclofaixa permanente (mista).


A Ciclofaixa Permanente apresentada na figura da esquerda é a nova, de Campo Grande. Já se estranha o fato de ela ser mais estreita que qualquer estrutura por onde passe a ciclofaixa de lazer, seja ciclofaixa de lazer somente ou local onde passem as duas estruturas, como se pode ver nas fotos do centro e da direita. A linha amarela central acontece nos três casos, apenas o exemplo de ciclofaixa de domingo não tem essa pintura, mas em outras ruas da cidade é assim. Podemos perceber nas fotos uma grande semelhança entre as ciclofaixas permanente, de domingo e mista. Se você acabou de pensar nos cones, lembre-se que em todos os outros dias de semana, não há cones, tornando as semelhanças maiores ainda. A única grande diferença entre as estruturas de lazer somente (domingo) e as permanentes é a existência dos tachões amarelos nas permanentes, o que é muito pouco para uma estrutura e cultura que precisam ser disseminadas.

Essa grande semelhança entre as ciclofaixas só confirma o descaso como as erstruturas são feitas na cidade. Isso permite não só o desconhecimento por parte dos motoristas do que é permanente e do que funciona dia de domingo, como também permite o uso desse argumento como desculpa para o motorista que sabe qual é permanente ou não, e finge que não sabe. Aliado à falta de fiscalização, temos como único respeitador da estrutura o motorista consciente e que reconhece as diferenças entre as estruturas. Só educado não serve se ele não souber as diferenças, e vice versa. Ainda sobre a fiscalização, lembramos que nenhuma das novas ciclofaixas inauguradas teve qualquer operação especial de orientação e fiscalização.

Agora veja a diferença em São Paulo.


A ciclofaixa permanente tem pintura diferenciada da ciclofaixa de domingo. Motorista que estaciona na ciclofaixa permanente só tem uma justificativa: safadeza, "é só dois minutinhos".
A ciclofaixa de domingo tem grande sinalização horizontal informando que funciona somente no domingo, bastante visível principalmente para o motorista, o que não encontramos no Recife. O funcionamento é semelhante: no domingo se enche de cones.
A ciclofaixa mista é igual à ciclofaixa permanente, pois afinal, ela também é permanente! Apenas no domingo ela se soma à estrutura de lazer, por uma coincidência de percurso. Pode-se perceber, sem recorrer à trena, que a largura das ciclofaixas permanentes em São Paulo é maior. No exemplo da mista, temos ciclofaixa mão única em cada lado da Rua Vergueiro. Além disso, a faixa de segurança da ciclofaixa permanente está pintada de amarelo, indicando que há trânsito de veículos motorizados no sentido inverso ao dos ciclistas.

Todas essas questões sobre a qualidade da estrutura - sinalização, largura, estrutura protetiva (tachões), pintura - são o basicão para se ter uma estrutura que passe segurança às pessoas, e assim elas possam finalmente se sentir confortáveis e seguras para usar a bicicleta no seu dia a dia. Vacilar no básico já dificulta todo o resto. Se faz uma boa estrutura para que a demanda por fiscalização seja menor. Uma cidade com 27km de ciclovias e ciclofaixas, com dezenas de milhares de km sem estrutura, torna impossível a tarefa de se fiscalizar o desrespeito ao ciclista, caso a CTTU demonstrasse interesse nisso. Por outro lado, ao se aumentar a estrutura, com qualidade, rotas interligadas, e com uma mínima porém constante fiscalização, o suficiente para que haja a dúvida sobre a impunidade, pode se proporcionar o suficiente para se atrair facilmente uma massa de novos ciclistas.

Cruzamentos em vermelho. Muito bem!
Como podemos ver nas fotos acima, falta cuidado com o cidadão que usa a bicicleta. Já tivemos alguns acertos nessa nova estrutura do Campo Grande, como os cruzamentos pintados em vermelho (não todos!), alertando os motoristas para o cruzamento de bicicletas, mas os erros ainda são muitos e o desconhecimento é grande. Desenhar uma estrutura que deve funcionar quase que 100% sozinha, com esse tal mínimo de fiscalizaçào que sugerimos, requer um cuidado que a prefeitura não está tendo, um cuidado que não foi necessário para a implantação da ciclofaixa de lazer, já que ela tem cones, não tem interrupções, tem dezenas (centenas?) de agentes da CTTU e orientadores, ou seja, tem mais recursos de proteção e humanos, demandando poucos cuidados com a construção da estrutura em si. O prefeito ou parte do corpo técnico da Secretaria de Mobilidade deveria testar as novas ciclofaixas permanentes, para evitar por exemplo, uma ciclofaixa que termina de frente para uma rua onde carros fazem a curva no sentido da ciclofaixa, sem nenhum redutor de velocidade e dão de cara com o ciclista (na ciclofaixa de Campo Grande). Tá na hora de sair da prancheta e ir pra bicicleta!