terça-feira, 27 de maio de 2014

Viemos em paz, terráqueos!


"Olá, terráqueo. Eu sou um ciclista e vim para dominar
o planeta Terra (esqueci o capacete em Marte)."
Às vezes tenho a impressão de que todos nós que nos locomovemos de bicicleta somos seres de outro planeta. Implantaram em nossas memórias a ideia de que nascemos da barriga de uma mãe terrestre, nossas memórias de infância, nossa(o) primeira(o) namorada(o), o primeiro tombo de bicicleta! Inseriram aos poucos a ideia de que fazemos parte desta sociedade, mas tudo faz parte de um grande plano de defesa global, para se protegerem de nossos objetivos e ideais de dominação do planeta, já que pretendemos escravizar todos os humanos, lhes obrigando ao fardo de terem que se locomover de bicicleta. Vou explicar o porquê dessa minha suspeita.

Desde que começou essa nova onda de bicicleta como forma de locomoção, surgiu juntamente com o boom de novos ciclistas na rua, a discussão sobre as soluções para mobilidade e sobre os conflitos gerados no trânsito com o surgimento dos commuters, os seres estranhos, excêntricos, que usam a bicicleta para ir ao trabalho. Funcionando como um sistema de defesa dos que insistem no uso do carro, ou pior, nos que insistem que somente o uso do carro para locomoção é viável, começaram a pipocar campanhas focadas no comportamento do ciclista. Recentemente, a Fiat colocou no ar uma campanha que une todos que fazem parte do trânsito em pé de igualdade, reduzindo o desrespeito às leis do trânsito ao grau de "vacilo". Apesar de não existirem casos registrados de pedestres ou ciclistas que invadiram uma parada de ônibus e mataram 3 pessoas e deixaram 6 feridos, insistem em focar as campanhas no comportamento de todas as pessoas, sob o argumento de que todos erramos, desconsiderando, omitindo as diferenças de cada veículo e sua potencialidade de dano.


Um pedestre vacilão. Os carros em alta velocidade no meio da cidade, não.

Pode um ciclista ou algum pedestre causar um dano tão grande à sociedade? Qual a porcentagem de participação de pedestres e ciclistas como causadores de mortes no trânsito? Quantos pedestres já mataram ciclistas no trânsito? Quantos pedestres e ciclistas já mataram motoristas no trânsito? É realmente importante para a redução do número de mortes no trânsito campanhas focadas no pedestre e no ciclista? Sim. E não. Sim: a educação no trânsito é ferramenta importante para a mudança do modo como as pessoas se comportam nas ruas, como entendem a hierarquia do trânsito. Não: no trânsito, segundo o CTB, o maior protege o menor. Portanto, o pedestre e o ciclista merecem o cuidado do motorista SEMPRE, mesmo os pedestres e ciclistas vacilões. É isso que falta nas campanhas de redução de mortes no trânsito. Ninguém merece morrer por causa de um vacilo na rua. Entretanto, a quantidade de campanhas de respeito ao pedestre e ao ciclista é irrisória comparado a campanhas do tipo "Ciclista, use capacete" ou "Pedestre, só atravesse na faixa". As campanhas deveriam seguir o tratamento desigual que a legislação estabelece, de acordo com a responsabilidade de cada um. Intencionalmente ou não, há um movimento de desvitimização do pedestre e do ciclista! Todos somos iguais no trânsito de acordo com a publicidade dos órgãos públicos de trânsito de todo o país, um erro de abordagem que tem um custo muito alto: os números de mortes no trânsito só aumentam ano após ano.


Tem mensagem pro motorista também?

A Prefeitura do Recife, por exemplo, tem nas ruas, mensagens do tipo "Pedestre, só atravesse na faixa", mas não veicula nenhuma mensagem do tipo "Motorista, respeite o pedestre sempre". Resultado: nessa nossa cidade carente de faixas e de instrumentos de controle de velocidade, há grande chance de o motorista acelerar para forçar o pedestre a apertar o passo, seja na faixa ou fora dela.

Chegamos ao ponto de estarmos no meio de uma grande campanha nacional, o Maio Amarelo, focando na redução de mortes no trânsito, e o Governo do Distrito Federal gastou seu dinheiro, tempo e energia pra fazer um vídeo, com produção de alto nível, transformando o ato de pedalar em algo que exige muito cuidado... do ciclista apenas! Esse tipo de campanha desacompanhada de uma ação paralela, forte, alertando o motorista para todas as suas responsabilidades com relação a ciclistas e pedestres trata qualquer um que esteja na rua fora de um carro ou ônibus como um ser estranho, um invasor.  Coaduna com a propagada visão de que ciclista, pedestre, ciclovia e faixa de pedestre não fazem parte do trânsito, são considerados apenas obstáculos.

Várias recomendações para a vítima. ZERO para o potencial agressor.

Esse tipo de campanha, além de tirar a simplicidade do ato de pedalar(capacete, roupas específicas, cuidado com isso, cuidado com aquilo, etc), nos tira - a pedestres e ciclistas - o sentimento necessário de autoestima, de nos sentirmos fazendo parte do trânsito como atores principais que somos. Não é à toa que em Recife e em várias cidades do país, vemos pedestres parados nas calçadas, na frente de faixas de pedestre, esperando pacientemente os carros passarem para finalmente tentarem atravessar - geralmente correndo - somente quando não há movimento de veículos. A falta de campanhas responsáveis e com o foco correto tirou dos próprios pedestres a sensação legítima de serem donos da rua. E mais... Acompanhado desta campanha do Distrito Federal, direcionada para os ciclistas, veio a hashtag #euTenhoCuidado, quando na verdade deveria ser #tenhaCuidadoComigo ou #tenhaCuidadoComOCiclista. E o ciclista? Não deve ter cuidado? Certamente. Mas se analisarmos o trânsito misto, em ruas com compartilhamento de carros - veículos de 1 tonelada a 60kmh -  e bicicletas - veículos de 12kg a um máximo de 30km/h -, falta justamente esse foco no comportamento de quem está conduzindo os veículos mais pesados e mais velozes. A segurança do trânsito depende bem mais do comportamento de quem tem a obrigação, segundo a lei, e a capacidade, segundo a própria dinâmica do trânsito, de proteger os outros atores do trânsito, do que dos elementos mais lentos e leves.

O Governo do Distrito Federal parece que ainda não entendeu essa lógica, por isso encheu o ciclista de cuidados. Veja algumas falhas pequenas e outras maiores da campanha. Como disse anteriormente, a maior das falhas está fora dela, que é não fazer um vídeo tão ou mais incisivo que esse para o motorista. Está na hora de se dividir a responsabilidade no trânsito entre todos proporcionalmente às suas potencialidades de dano, nunca igualmente.


Nenhum ciclista quer pedalar na calçada. O motivo sempre é de auto proteção, evitando trechos perigosos no asfalto.





Continuamos com a lógica do ciclista se adaptar totalmente ao trânsito, de tomar todos os cuidados que deveriam ser do motorista por lei. Veja que no quadro ao lado não tem o PARE para o carro. A preocupação é o ciclista ter o cuidado de parar e acenar para, se o carro parar, então o ciclista poder atravessar.


Enquanto todos podem se vestir como desejam, para o ciclista se exige uma etiqueta para sua própria segurança. De dia...


... e de noite.

Veja como as pessoas se vestem no mundo inteiro para usarem a bicicleta, inclusive aqui no Brasil. É bem diferente do que sugere a campanha. >>> Cycle Chic


Apesar de não ser exigido por lei, apesar de toda a controvérsia sobre os efeitos do uso do capacete coletivamente, apesar das incertezas sobre sua eficácia na proteção individual do ciclista, apesar das estatísticas muitas vezes provarem o contrário, apesar de uma pequena porcentagem da população usar o capacete por inúmeros motivos, inclusive econômicos, se insiste na campanha pró-capacete.

O ciclista sempre é induzido a tomar cuidado com tudo. 

E mais.

E MAIS! A obrigação de total atenção é de quem sai do estacionamento, não só com o ciclista como também com outros veículos motorizados e pedestres também.


O Código de Trânsito Brasileiro determina que o ciclista deve usar os bordos da pista e não somente o bordo direito.



E pra terminar, mostra um carro ao lado do ciclista, muito perto, sem a menor necessidade. Sobrou cuidado para o ciclista, faltou cuidado com detalhes importantes na hora de se definir a campanha.







Em outro vídeo, feito para o motorista, que parece ser da mesma campanha, se evita dar a maior responsabilidade a ele: "motoristas e ciclistas são amigos. E um cuida do outro". Até quando seremos tão paternalistas com quem tem a maior responsabilidade nas ruas? Enquanto isso, o ciclista continua sendo tratado como um alienígena, alguém que apareceu do nada agora, chegou de teletransporte no meio da rua, irresponsável, desconhecedor das leis e dos costumes, e que tem tudo a aprender. Falta justamente o outro lado, que é ensinar o motorista a conviver com esse novo elemento, pelo menos na mídia, porque ciclista tem na rua desde sempre. Eles não chegaram de disco voador, estavam apenas invisíveis.



Ciclistas Invisíveis de Casa Amarela - Recife


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Sabe de nada, dependente!

Parece uma decisão simples a escolha de como se locomover nas grandes cidades. Os critérios considerados são já bastante batidos: distância, conforto, segurança, tempo de percurso, custo e até mesmo sustentabilidade, para alguns. Alguns desses critérios são inalteráveis de acordo com a percepção e o tempo, ou sofrem poucas alterações. A distância por exemplo, já determina a possibilidade de se ir a pé ou de bicicleta. Por mais que existam casos isolados de pessoas que usam a bicicleta para ir trabalhar a 12 ou até mesmo 25 quilômetros de casa, esses casos são exceções existentes em cidades onde os sistemas de transporte não funcionam a contento. No geral, distâncias de até 2km deveriar ser vencidas a pé na maioria dos casos, de até 6km de bicicleta, e acima disso de transporte público, sendo o carro um modal que escapa dessas regras, recomendável para casos especiais.

Liberdade? Quem passa a maior parte
do seu tempo dirigindo nas montanhas?
Outros critérios são bastante subjetivos, de forma que há uma grande discrepância entre a realidade e a percepção das pessoas. Um dos motivos alegados pelos motoristas ao justificar o uso do carro é a segurança, nos dois sentidos: segurança contra furto ou roubo e segurança no trânsito contra acidentes. Entretanto, no engarrafamento o motorista está bastante vulnerável (não pretendo contar com a opção de blindar todos os carros, algo bem distante de nossa realidade social). E, sobre a segurança no trânsito, também é bastante contestável a ideia de que dentro de um carro se está mais seguro, além do fato de ser a existência do carro um dos fatores da insegurança coletiva que atinge a todos no trânsito. Mas há um critério pouco discutido e que nem é pensado no momento de se escolher como se locomover no dia a dia: a independência, quase um sinônimo de uma das palavras mais utilizadas em propagandas de automóveis, a liberdade.

A realidade.



O critério independência não se reduz a ser livre do engarrafamento. Podemos tentar traduzir o significado desse termo para a mobilidade da seguinte forma: se verifica o nível de independência de um modal de acordo com a complexidade do uso do mesmo, a estrutura necessária para o uso e a quantidade de fatores externos que influenciam esse uso. Podemos incluir também o tempo necessário para se usar este modal, não só o tempo de deslocamento, mas também para proporcionar esse deslocamento.

Estação de metrô em São Paulo durante as greves de ônibus.
Nesse mês de maio, com a greve dos ônibus em São Paulo, pudemos perceber a face mais cruel dessa dependência de um modal, a dependência de um sistema de transporte. E em países onde está consolidada uma estrutura viária voltada majoritariamente para os veículos motorizados, as pessoas se dividem entre duas categorias: motoristas e usuários de transporte público. Certamente, em cidades como São Paulo, as calçadas e a bicicleta não resolveriam a situação de muita gente. Mas caso a cidade considerasse esses modais, daria para uma boa parcela dos usuários, os que moram a até 10km do trabalho - pedalando, se faz essa distância em uns 40 minutos - uma opção de deslocamento em dias como esses, lhes proporcionando a oportunidade de não dependerem do sistema do transporte em casos extremos como esse de greve, além de desafogar do sistema - metrô e ônibus - uma grande massa de usuários que se locomove diariamente a distâncias menores de 6km, deixando o sistema mais folgado para o uso de quem realmente mora longe. Além de situações atípicas como essas - greve dos motoristas de ônibus - a dependência existe nos dias de circulação normal. Existe uma dependência da quantidade de ônibus, o que pode gerar filas, uma necessidade de se caminhar até a parada, a existência de um tempo parado, sem deslocamento, esperando os ônibus, além do custo é claro, a necessidade de se sujeitar aos preços impostos para o deslocamento. Metrô e VLT podem ser analisados de forma similar ao ônibus em alguns aspectos da dependência, mas pelo menos rodam em estrutura segregada, são então dotados de uma maior independência, não sendo atingidos pelo engarrafamento, proporcionando maior previsibilidade e confiança nos sistemas desses modais.


Trabalhando para o carro.
No caso do carro, esta dependência se torna  mais presente na relação tempo-custo. O usuário de ônibus migra para o carro - ou para a moto - na esperança de se livrar do engarrafamento que ele mesmo vai ajudar a produzir. No Recife, até os anos 1990, nos parecia bastante viável o uso do automóvel, porque todos só pensávamos no tempo dedicado ao automóvel como sendo o tempo de deslocamento, o que faz parecer razoável o que se gasta com ele. Era mais rápido e confortável que o ônibus, e não considerávamos as outras possibilidades. Fica de fora desse cálculo o tempo necessário para caminhar do estacionamento até o trabalho, que faz parte da realidade de alguns, tempo em oficina, lava-jato, abastecimento, além do tempo de trabalho necessário para se manter esse automóvel, que é o principal fator de influência nesse cálculo. Hoje, o carro já não é o mais rápido em muitos casos. Num percurso de ida e volta ao trabalho totalizando 15km, o que é bastante comum para o recifense, se considerarmos um total de 80 minutos - 40 em cada trecho, sendo bastante generoso! -, temos uma velocidade média de 11,25km/h. Sou exemplo prático dessa velocidade: até 2012, quando tinha carro, a velocidade média acumulada marcada no computador de bordo do meu carro, sempre oscilava entre 11 e 12km/h. De bicicleta, o tempo dos ciclistas mais lentos, sem nenhuma estrutura nem proteção do poder público, gira em torno de 15km/h. A comparação porém, é mais desfavorável ainda, já que faltam fatores externos a esse cálculo do veículo. Essa pessoa que gasta 80 minutos para ir e voltar do trabalho de carro, se ela tiver um salário mensal líquido de R$4000,00, e um carro de R$30.000 que vá usar por 4 anos e depois vender por R$14.000,00 para comprar outro, gasta por dia algo em torno de 81 minutos do seu trabalho para sustentar o veículo. Das suas 8 horas de trabalho, ele trabalha 1h21min para pagar o carro. Somando-se esse tempo ao tempo de deslocamento, sua velocidade média cai para 5,58km/h, mais lento que o pedestre. Mesmo com sutis mudanças nos valores utilizados no cálculo - consideramos 9km/l de gasolina, além de um valor hipotético fixo de seguro, IPVA, manutenção, estacionamento, - essa velocidade não muda muito. Pode mudar substancialmente para acima de 10km/h, para quem tem altos salários, bem acima de R$10.000 líquidos e opte por um carro de no máximo R$35.000 reais. Ainda faremos uma postagem somente com esse cálculo. Fica claro que a principal dependência gerada pelo carro é econômica.

Mas não pára por aí. Se o usuário do ônibus fica perdido no meio da rua quando o ônibus quebra ou quando há greve, chegando a ficar 4 horas parado esperando um ônibus, o motorista não fica atrás (ou na frente? hehe). Por se locomover com um bem de alto valor, pesado e espaçoso, não tem condições de se libertar dele quando este o deixa na mão. Se acaba a gasolina, tem que ir buscar no posto e voltar. Se há um acidente, tem que ficar para resolver toda a questão burocrática. Se quebra o carro, tem que esperar o reboque e acompanhar o conserto no dia seguinte. E o pior, se está no engarrafamento, não tem como se livrar do carro e seguir a pé, de bicicleta ou de outro transporte.

Veja caso de engarrafamento na China que durou 9 dias. Calma aí! Ninguém está falando aqui que os 100km deveriam ser vencidos por todos de bicicleta. A crítica é ao modelo rodoviarista, que consome o tempo, o dinheiro e a vida das pessoas. Uma ferrovia ajudaria bastante nesse caso, pois como falamos, os trilhos conduzem veículos mais independentes dos problemas causados pelos modais baseados neste modelo rodoviarista. Você NUNCA verá um engarrafamento de 100km de trens, de pedestres ou de bicicletas.

No outro lado do critério dependência, há os outros modais, os não motorizados. É óbvio que têm suas limitações citadas já no início desse artigo, principalmente com relação à distância, e também concordamos que pessoas com limitações de locomoção têm dificuldade de se adaptar ao uso desses modais, mas a grande maioria da população se adaptaria sem grandes problemas. O pedestre é historicamente e sempre será, apesar de ter sido desfavorecido nas últimas décadas, o modal mais independente. Ele sai de casa e já começa a se deslocar ao seu destino, independente de engarrafamento, greve, quebra de veículo - não há veículo! - ou custo. Parar para se calcular o custo de uma caminhada - com generalidades estúpidas como custo do sapato ou consumo calórico - é algo tão insignificante se comparado aos motorizados, tão longe de ser caracterizado como uma dependência econômica, que não há serventia em se fazer esse cálculo. Não demanda estruturas caras como terminais ou espaçosas e custosas para a cidade como estacionamento ou mesmo bicicletário (não tão custoso nem espaçoso assim).

A bicicleta é muitas vezes indevidamente comparada ao carro ou à moto, por uma visão simplista de que se tem duas rodas, é uma moto sem motor. Ela é em vários critérios, e principalmente no critério dependência, muito melhor comparada a um pedestre sobre rodas:
- O custo é baixo, não gerando necessidade de altos salários para se sustentar o uso do veículo.
- O uso da bicicleta consome 5x menos energia que o pedestre, sendo em média 3x mais rápido que o mesmo, sendo assim concorrente do sistema de transporte pública para distâncias médias.
- Demanda pouco espaço para estacionamento - um bicicletário com 10 a 12 vagas ocupa o espaço de um carro -, e não tendo vaga, pode ser guardada dentro do imóvel normalmente ou presa a algum equipamento de rua: grade, poste, etc.
- Não é gerenciada por nenhuma concessionária, sendo o percurso totalmente livre, assim como o horário de uso. Pelo mesmo motivo, se assemelha ao pedestre em não depender de engarrafamento ou greve.
- O fator tempo varia muito pouco com engarrafamentos e outros problemas de percurso, mesmo na chuva ou neve, em cidades do mundo inteiro
- Nos casos de falha, quebra ou pneu furado, pode ser facilmente guardada ou presa com cadeado para que se busque uma solução posterior em momento oportuno. É bastante comum entre os colegas ciclistas de Recife o uso de diversas alternativas nesses momentos de quebra:
  • existem táxis especializados, com transbike, para transporte de bicicleta.
  • alguns motoristas de ônibus, em horários com menor demanda, permitem a entrada de bicicletas nos ônibus. No metrô, em alguns horários também.
  • se integram facilmente a outros modais em cidades que buscaram esse tipo de solução.
  • podem ser deixadas no local de trabalho para serem buscadas posteriormente. O ciclista usa de outro modal à sua escolha - ônibus, táxi, a pé , bicicletas de aluguel - e no dia seguinte retorna com a solução para consertar a bicicleta.
  • Tendo oficina próxima, o que é bastante provável, a grande maioria das quebras pode ser resolvida em poucos minutos, devido à simplicidade do veículo.
É esse o destino do seu dinheiro e tempo?
Certamente a independência não deve ser o único critério a se escolher um modal para se investir para uma cidade, mas investir em modais independentes melhora o funcionamento inclusive dos modais mais dependentes. Dar condições às pessoas de poderem usar mais os modais não motorizados as torna mais independentes economicamente, sobrando recursos que antes eram exclusivamente destinados à manutenção e sustento do carro,  da indústria automobilística e setores complementares, para então serem investidos em setores diversos da economia local, possibilitando um maior investimento em lazer, alimentação, habitação e tantos outros setores. Também as torna independentes no seu deslocamento, aumentando consideravelmente sua eficiência ao se transportarem, ampliando o tempo disponível para usar a cidade e conviver com outros cidadãos, já que gastarão menos tempo presas no engarrafamento. Ora... Se estimular os deslocamentos a pé e por bicicleta dá às pessoas mais dinheiro e tempo para gastá-lo na cidade, a quem não interessa investir nesses modais?

Veja também a ótima palestra A Alforria do Caracol, de Guilherme Jordão no TEDx Recife 2013, e entenda o que muda na vida de quem ganha uma opção mais independente de deslocamento.






terça-feira, 6 de maio de 2014

Razões para NUNCA ir de bicicleta ao trabalho.

Este ano o Bike to Work Day (Dia de ir de bicicleta ao trabalho) cairá no próximo sábado, 10 de maio. Para evitar isso, foi alterado para o dia 9, sexta-feira. Se você está cogitando entrar nessa onda e ir de bicicleta ao trabalho amanhã, selecionamos nove motivos para tentar demovê-lo dessa ideia maluca! Aqui não é a Dinamarca!
Na Dinamarca só tem doido!
Texto original em http://www.huffingtonpost.com/brendan-leonard/biking-to-work_b_4426504.html
Traduzido pelo colaborador Pedro Guedes, arquiteto e mais um dos malucos que vai de bicicleta ao trabalho, costurando o engarrafamento. Chega suado sempre, com um sorriso boçal no rosto, ninguém aguenta mais.

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- Eu pedalei para todo os lugares dentro de uma distância de 6,5km da minha casa nos últimos 5 anos, incluindo todos os empregos que já tive - nunca precisei ir de carro ao trabalho em Denver. Acho pedalar estimulante, mas isso não significa que você devesse pensar o mesmo. Aliás, eis 9 razões pelas quais você não deveria nunca ir de bicicleta ao trabalho. Tenho certeza que você poderá pensar em outras.

1. Você teria que mudar completamente sua rotina.
Por favor. Deixar de lado dirigir 45 minutos até o trabalho, aquele tempo que te energiza para o dia que tem adiante? Nada mais de interação com todos aqueles motoristas divertidos, amigáveis e corteses nas ruas da cidade? Nunca mais ficar sentado num engarrafamento? Obras na pista? Trocar de faixa? Sem chance.

2. E se chover?
É, Sr. Trabalhador Pedaleiro Casca-Grossa, e se chover? Você é obrigado a pedalar sua bicicleta debaixo d’água voltando pra casa? O que você vai fazer quando chegar em casa parecendo um rato de esgoto? Isto é uma sociedade civilizada. Graças aos guarda-chuvas, corridas do carro ao escritório e às vezes um jornal sobre a cabeça, você não se molha fora do chuveiro desde 2007. Agora só falta alguém dizer que você pode levar uma capa de chuva na sua mochila - ou calças também. Que diabos é isso, um acampamento? Você apenas quer chegar no trabalho na hora.

3. O caminho de sua casa até o trabalho de bicicleta é suicídio.
Não existem ciclofaixas, ciclovias, bordos de pista ou mesmo calçadas, absolutamente nada disso da sua casa até o trabalho. Como assim você deveria encontrar ruas nas quais se possa pedalar, como ruas menos movimentadas, com limite de velocidade mais baixo ou áreas residenciais? Ou fazer desvios do seu caminho para achar uma rota mais ciclável? Não, obrigado. Você não tem tempo para essa merda.

Brad Pitt só pedala com seu hair stylist a tiracolo.
4. Você não pode usar capacete e detonar seu cabelo antes do trabalho
Fato: produtos de cabelo não são portáteis, e não são pensados para uso fora do seu banheiro de casa ou salão de beleza. E, convenhamos: seu corte de cabelo é uma obra de arte finíssima, e não algo que possa ser aprontado em 5, 10 ou até 30 minutos num banheiro qualquer de escritório. Você gasta muito tempo com seu cabelo, assim como Tony Manero. Não pode jogar tudo fora assim por causa de uma pedalada.

5. Você não tem a bicicleta ideal.
As suas únicas bicicletas são a Trek Madone e sua single-speed aro 29, nenhuma das duas vai dar certo. Você teria que ir atrás de comprar uma bicicleta exclusiva para transporte urbano, e essas custam no mínimo quanto, R$1.000? Pode perguntar aos trabalhadores que pedalam todo dia suas barras circulares por aí: elas não são nem um pouco baratas.


6. Você não pode chegar suado e fedendo no trabalho.
É um fato comprovado que depois que uma pessoa sua ao fazer exercícios, não é possível se recuperar a não ser que entre num chuveiro e lave tudo de novo. Outro fato: o suor humano é composto de mais de 90% de partículas fecais, e é por isso que você fede como um chiqueiro instantaneamente após iniciar qualquer exercício, e depois, as pessoas ao seu lado na esteira da academia começam a desmaiar como se tivessem inalado clorofórmio. Não que você possa simplesmente tomar uma ducha no trabalho, aliás, ou usar lenços umedecidos para se enxugar quando chega e tirar o mau cheiro. Seus colegas de trabalho ainda assim vão perguntar “Bob, o que diabos você fez, veio pedalando pro trabalho hoje? Com esse fedor, parece que estão destroçando um veado morto há uma semana dentro do seu cubículo”.

7. Você precisa ir à academia antes/depois do trabalho.
Como assim, você precisa carregar todo o seu material de trabalho E suas roupas de ginástica numa mochilinha enquanto pedala? Por favor. Assim, então, você pedala pro trabalho, pedala pra academia, depois ainda aguenta pedalar 45 minutos na ergométrica e depois pedala até em casa? Ridículo. Quem é você, Lance Armstrong? Acho que deveríamos apenas pedalar nossa bicicleta real e parar de ir à academia, mas somos brasileiros. Nós não malhamos na rua.

8. Você precisa usar gravata para trabalhar. Ou terno. Ou saia.
Como se não bastasse isso, é importante que você use a gravata/terno/saia desde o momento que sai de casa de manhã até quando chega em casa à noite. Não é concebível que haja uma forma de deixar parte das roupas no escritório, e as vestir depois que chegar lá, duas ou três vezes por semana. Além disso, sua combinação de terno/gravata é sempre tão específica que você não pode de forma alguma espalhar sua coleção de gravatas em dois locais. Onde diabos está minha gravata azul-safira? Preciso ver agora se ela combina com esses sapatos. E também, como se existisse alguma forma de pedalar de saia ou vestido?
Todo mundo cai de bicicleta. Fuja disso!

9. É perigoso demais
Você é capaz de se imaginar pedalando na rua com todos esses motoristas loucos passando perto de você, com nada para lhe proteger exceto talvez uma concha de plástico e isopor na sua cabeça? Você pode ser morto! A melhor coisa absolutamente é ficar na jaula protegida que é o seu carro, já que ninguém nunca morreu dentro de um automóvel. Dirigir é seguro.

Depois de tudo tão explicado, mastigado, ainda assim você quer dar uma de hipster? É pra se amostrar? Ok. Então veja De Bicicleta ao Trabalho ou Bike Anjo. Mas por favor, não espalha!