quinta-feira, 27 de março de 2014

Não tem Photoshop! #nofilter

Ainda não é 1º de abril! No meio de uma semana conturbada, com dois ciclistas mortos, surge um fio de esperança. Pela primeira vez na história dessa cidade, esta informação simples, direta, prática, é divulgada de forma oficial. Sem o devido alarde, sem a devida campanha maciça em todos os meios de comunicação, tímida, como quem tem vergonha de se mostrar. Hoje apareceu da Av. 17 de Agosto, em Casa Forte, em plástico novo e brilhante, algo bastante recente. Não sabemos precisar quando foi colocado esse outdoor que vos apresento, foto em tamanho grande, para que todos possamos, ainda incrédulos, espalhar. Vejam com seus próprios olhos!

Nunca antes na história do Recife!
Se existe uma frase que o ciclista gosta de ler, de ouvir, que pinta na camisa, que escreve em cartaz e coloca nas costas, e que gosta de de sentir na pele no trânsito - ou melhor, a 1,5m da pele -, é essa: MOTORISTA, MANTENHA-SE A 1,5M DE DISTÂNCIA DO CICLISTA.

Esperamos sinceramente que a a prefeitura esteja encarando esse outdoor não como um cala boca às recentes reclamações de falta de segurança dos ciclistas, mas como pontapé inicial para uma tão esperada mudança no modo como se gere o trânsito dessa cidade. Há muito a se fazer! Ao contrário do que o Secretário de Mobilidade disse hoje, afirmando que "estamos fazendo nossa parte, serão construídas 12 rotas cicláveis esse ano", a ciclovia é só a porta de entrada, o convite do ciclista para a cidade. Que campanhas como essa se intensifiquem, e sejam N-E-C-E-S-S-A-R-I-A-M-E-N-T-E acompanhadas de uma mudança sistêmica na CTTU, porque achar que educação resolve sem fiscalização é inocência demais, que o Município não pode se dar ao luxo de ter.

Amanhã a gente continua a reclamar do que se deve reclamar. Por hoje, desejamos a todos os usuários da bicicleta, que tenham bons sonhos.

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Império Contra-Ataca

Você que anda na Ciclofaixa de Lazer no fim de semana, não se sinta tão incluído assim. Você que usa a bicicleta para transporte durante a semana, você não é tão hipster assim. Tem uma massa de ciclistas. Até metade da década passada, você não os percebia, pareciam poucos, mas pode ter certeza, eles sempre estiveram nas ruas. Acostumados a serem empurrados pra sarjeta ou pra calçada, sempre aguentaram todos os finos e outros desrespeitos no trânsito que todos os motoristas - inclusive os atuais "in" e hipster - na época ainda essencialmente motoristas também, sempre deram. Esses ciclistas se encolhiam, esperavam vocês - na verdade nós! Esse ciclista que vos escreve já foi motorista por 18 anos e fez muita merda no trânsito - passarem e continuavam, seguiam em frente, na época que os problemas do trânsito se resolviam de uma única forma, a compra do bem prático, de luxo, e totalmente excludente: o carro.

A questão é que o cenário mudou. Os ciclistas invisíveis continuam lá, como sempre. Talvez menos invisíveis. Mas quem está incomodando o sistema rodoviarista de mobilidade, que inclui usuários, governo, mídia, são os novos usuários de bicicletas para transporte. Eles - nós - não são melhores do que os ciclistas que aparecem nesse vídeo acima. Na verdade, deveriamos aprender muito com eles. Mas por termos usufruido de uma educação escolar um pouco mais privilegiada, nós não nos encostamos para o motorista passar. Batemos no vidro, gritamos, reclamamos, discutimos. O motorista, acostumado a ser o rei da rua, está lá no seu camelo de lata gigante, mas agora tem que ouvir. Ouve na rua, nos jornais, na TV, ouve o prefeito falar no assunto, o secretário de mobilidade - que só fala, nada faz -, e começa a encher a paciência de tanto ouvir falar em bicicleta. Talvez no correr do seu dia estressante ele não perceba exatamente, mas, acostumado a ver a cidade inteira construída somente para quem tem carro, começa a se incomodar de tanto ouvir falarem sobre uma solução que ele acha que não é pra ele, e que sabe que vai tirar espaço de sua banheira com quatro rodas. Essa é uma novidade que as pessoas têm que começar a engolir. ATENÇÃO >>> as soluções podem servir para a coletividade, mesmo que você nunca use!

Essa reação dos motoristas, de acusar os ciclistas de irresponsáveis, de reclamar do ciclista e do pedestre, que não respeitam as leis de trânsito, que são folgados, já nos acostumamos. Continuaremos rebatendo uma a uma cada uma dessas generalizações vergonhosas, mas o que vem ocorrendo na mídia, formadora de opinião, é preocupante, revoltante... é ESCROTO. Em menos de um mês, da sexta-feira de carnaval pra essa semana, os três grandes jornais do Estado: Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco, publicaram matérias criticando o comportamento de ciclistas e pedestres, um grande desserviço à sociedade. É claramente uma publicação de ideias revanchistas, no momento em que uma parte da sociedade se une para valorizar o elemento humano na cidade e no trânsito. E pior, nenhuma das três matérias traz reflexão acerca da principal pergunta sobre um comportamento humano: POR QUÊ???

Vejam... as leis de trânsito no mundo inteiro punem basicamente comportamentos nocivos à sociedade, mesmo sem a ocorrência do resultado, o "acidente". Isso se torna necessário para um ambiente onde as pessoas têm equipamentos pesados e velozes nas ruas para se locomoverem. Portanto, analisar comportamentos dos agentes envolvidos no trânsito sem perguntar o por quê tira qualquer legitimidade da análise e da punição criada para quem não cumprir os comportamentos desejados.
Alguns exemplos:

- O pedestre atravessou com o sinal fechado. Por quê? Por que no Pina o sinal de pedestre fica fechado até 8 minutos. Motorista amigo, se um sinal ficar fechado 3 minutos para o senhor, certamente furarás o semáforo, ainda tuitarás reclamando do absurdo.

- O pedestre atravessou a rua fora da faixa. Por que? Por que não tem faixa na Praça do Parnamirim, a única solução para sair da praça é atravessando fora da faixa.

Pedestre e ciclistas x carros: devem ser tratados de forma isonômica?
Ciclistas incluídos no trânsito não desrespeitam regras.
- O ciclista furou o semáforo. Mas afinal, alguém que não tem uma carcaça de uma tonelada para lhe proteger, por que esse energúmeno fura um sagrado semáforo? Por que ele pesa os riscos, e não vindo carro no cruzamento, ele prefere furar o semáforo e trafegar 200, 300 metros sem todos os veículos que estavam ao seu lado no semáforo lhes tirando fino, fazendo conversões perigosas à sua frente. Veja na foto ao lado uma Bikebox, comum na Europa e Estados Unidos, e até em São Paulo (infelizmente compartilhada com moto). Uma estrutura dessas em um cruzamento aumenta o engarrafamento em um carro por fila, e dá aos ciclistas opção segura para não precisarem invadir a faixa de pedestre.

Erros existem em todos os modais. Quem erra são as pessoas, e não os modais. Mas quais as consequências desses erros? Um motorista a 80km/h na Agamenon Magalhães pode causar os mesmos danos que um pedestre furando um semáforo fechado já há 7 minutos? E afinal, por que um motorista dirige a 80km/h no ambiente urbano? Esse é um por que interessante de responder. Por que há poucos radares na cidade?

Por que o motorista estaciona em cima da calçada? A falta de vagas justifica usar o espaço do pedestre?
É na resposta dos porques que podemos justificar ou não o comportamento de todos no trânsito. A verdade é que em sua grande maioria o pedestre e o ciclista quebram regras de um sistema que não foi feito pra eles, por um único motivo: segurança.

Vamos terminar comentando as três matérias rapidamente, para demonstrar como foram parciais, revanchistas, conduzidas de forma equivocada. Está na hora de os jornalistas colocarem o que ouvem do outro lado da história.
Blog de Olho no Trânsito (JC) - A jornalista procurou os ciclistas, mas escreveu somente o que queria para chegar ao resultado que já tinha em mente antes de estudar sobre o assunto. Ela usou uma : "alerta  que a mistura álcool e direção para o ciclista é tão perigosa quanto para o motociclista" e "A moto ainda consegue ser pior por ser um veículo motorizado, que pode desenvolver altas velocidades. O trauma na bike é menor, mas alcoolizado, o ciclista potencializa o risco de atropelamento.". O ponto de vista dos ciclistas foi ocultado da matéria, já que as perguntas da jornalista pescavam uma resposta que indicasse que estávamos incentivando a beber e pedalar. Vamos nos abster de discutir o assunto aqui. A lei já define o que pode e o que não pode, e discutir as permissividades para ciclistas e pedestres na lei não é o objetivo desse post.
definição pessoal do que é certo ou errado para escrever a matéria. Procurou um especialista sobre motos (Oi???) pra falar sobre os riscos da mistura bicicleta+álcool.  O especialista faz duas afirmações contraditórias, resultado de pesquisa nenhuma dele e da jornalista

Blog Mobilidade Urbana (Diario) - Esse texto irresponsável foi copiado do site Vrum, especializado no público que tem carro.  Ele é praticamente um estímulo aos motoristas para avançarem em cima de pedestres infratores. O assunto é a possibilidade de multar pedestres. O que isso trará de mudança para o nosso trânsito nessa cidade com pouquíssimas faixas? Certamente tirará mais gente das calçadas, e os empurrará para outros modais, principalmente o carro. A aplicação de multas ao pedestre mudaria em muito pouco nosso cenário de mobilidade no quesito segurança. Não há na matéria nenhuma reflexão sobre o fato das cidades serem péssimas para pedestres no Brasil. O nível de utilidade de uma matéria dessas para o trânsito é mínimo.

De quem é a culpa? Não interessa.
Ninguém merece morrer por um erro.
Cotidiano (Folha de PE) - O repórter da Folha procurou ciclistas, recebeu dados, informações sobre mortes no trânsito. Ouviu comentários sobre como outras cidades estão diminuindo as mortes no trânsito. Não publicou nada disso. Tratou ciclistas, patinadores e usuários de skate como invasores no trânsito. Em nenhum momento jogou a responsabilidade nos veículos maiores. Tratou a matéria inteira da irresponsabilidade dos veículos não motorizados. Poderia muito bem ter dado um aviso aos motoristas " a cidade não está preparada para esses novos usuários. É recomendável diminuir a velocidade e dobrar a atenção ao avistar pessoas desprotegidas no asfalto.". E numa matéria toda sobre comportamento de ciclistas, colocou este quadro com números de mortes e vítimas de acidentes no Estado. Fez uma associação direta entre os fatos.

Estamos nas Cruzadas contra os não motorizados, a mídia se apresenta imparcial, e exige de duas figuras o mesmo comportamento exemplar. Exige indiretamente do ciclista e do pedestre que sejam perfeitos, que nunca cometam erros - erros estes que colocam em risco suas próprias vidas - para que possam reclamar do motorista que joga um carro de 1000kg em cima deles. É isso que vocês chamam de isonomia?

Saiam da banheira de hidromassagem sobre quatro rodas e venham andar e pedalar sobre brasas com a gente. Quem sabe assim, com os pés cheios de bolhas, vocês consigam escutar e entender o que se diz do outro lado da notícia. Enquanto permanece esse contra-ataque, está saindo do papel o projeto do corredor de BRT da Caxangá com total priorização a carros e ônibus, relegando pedestres e ciclistas a um espaço menor do que o adequado, tudo em nome da Santa Mobilidade, medida em fluxo de veículos por hora.

quinta-feira, 20 de março de 2014

O que realmente importa?

Estigma é uma característica pitoresca para pessoas e cidades. Ciclista tudo é excêntrico, pedestre é tudo folgado, baiano é preguiçoso, São Paulo é a cidade com o pior trânsito do Brasil. Pois não é. Depende do que você considera como pior. Certamente, pra quem está dentro do carro, o pior do trânsito é o engarrafamento, achar onde estacionar, a indústria de multas - faz-me rir!!!! -, mas para todos os assassinados nas ruas diariamente, o pior do trânsito são as mortes. Nem vale aqui discutir o que é mais importante. Se alguém acha a solução para o engarrafamento a prioridade máxima da mobilidade, e não as mortes no trânsito, meus parabéns. Nós do Cicloação achamos a segurança o pior problema do trânsito. E é por isso que fazemos questão de comparar nossa pequena e plana cidade com a gigante e inclinada São Paulo. O Bicicreteiro da Silva já tinha feito isso, mas agora vieram os dados.

Em matéria divulgada no Estadão, temos que a maior cidade do país teve um declínio no número de mortes em 6% em 2013, apesar do recorrente aumento da frota e da população - algozes e vítimas respectivamente -, o que poderia ser uma surpresa. Mas será que é? Em 2013, o que tivemos de diferente em São Paulo? Algum investimento pequeno, mas real em estrutura cicloviária, criação de faixas exclusivas de ônibus, redução das velocidades máximas em áreas do centro da cidade, campanha pelo respeito ao ciclista veiculada na TV, pedindo respeito ao 1,5m ao passar o ciclista, além de outros cuidados.. Em quantidade menor, sem noção do tamanho dessas medidas, pude ver em alguns bairros alargamento de calçada em esquinas, diminuindo a distância de travessia na faixa. O que essas medidas têm em comum? Todas elas são investimento em mobilidade em todos os outros modais, com exceção do automóvel. Sobre as três principais, comentários rápidos:

- Aumento de malha cicloviária: seduz as pessoas ao uso da bicicleta como transporte. Algumas delas saem do carro. Mais bicicletas, mais mortes? Não. Menos carros, menos mortes.

- Criação de faixas exclusivas: torna o ônibus mais rápido em muitos trechos. Também tira gente dos carros, e diminui a velocidade dos carros pelo aumento do engarrafamento.

- Redução de velocidades máximas no centro: torna o ambiente mais seguro para ciclistas e pedestres. Também é um atrativo a esses modais, consequentemente tira pessoas dos carros.

- Campanha de TV: pedindo respeito ao ciclista, sem conceitos ambíguos e irreais de respeito de lado a lado entre ciclistas e motoristas. Mostra ciclista levando criança, ocupando a faixa, sem capacete, todo tipo de comportamento normal no mundo inteiro, mas motivo de revanchismo de muitos clientes da indústria de multas por aqui. A educação como elemento transformador do trânsito. Lembrando ao motorista o que já está no CTB. E podemos lembrar ainda, como etapa seguinte a esta campanha, o fato de os agentes da CET estarem multando o desrespeito ao ciclista, notícia que se espalha rápido, seja como indústria de multas, ou qualquer outra coisa.


O resultado final é que a cidade de São Paulo conseguiu quebrar a barreira dos 10 mortos/100.000 habitantes no ano, pra baixo! Atingiu o ainda perigoso, mas não tão trágico número de 9,6!!!

Repetimos então o quadro do nosso último post, com dados informados essa semana pelo Observatório do Recife. Esses dados são de mortes por 10.000 habitantes, então em 2011, quando os números de SP eram eram um pouco maiores que 10 mortes por 100.000, em Recife, tinhamos 39,2 mortos por 100.000, já que o quadro abaixo mostra números por 10.000 habitantes. Menor que 2010, mas impossível de determinar que isso é uma tendência. O fato tão preocupante quanto o alto índice de mortes, é a falta de dados. Somos uma cidade muito menor, e não temos transparência sobre que condições de trânsito temos. 2012 e 2013 são uma incógnita. Se daqui uns meses ou anos, quando tivermos esses dados, eles demonstrarem um aumento das mortes, já estaremos muito atrasados no tempo para tomarmos alguma medida.
Mortes por 10.000 habitantes
Nunca imaginei que nossa meta mais próxima seria ser tão seguro quanto São Paulo. Isso significaria hoje, com os números que temos, diminuir em 75,5% as mortes no trânsito.

Quantas dessas medidas citadas acima foram implantas em Recife? A faixa exclusiva na Av. Mascarenhas de Moraes. E junto com ela, a proibição de ciclistas compartilharem a via com os ônibus, o que também já acontece em São Paulo.

Pra terminar, uma última informação. Em São Paulo, com 12 milhões de habitantes, 35 ciclistas morreram em 2013. Em Recife foram 31.

quarta-feira, 19 de março de 2014

CTTU, inimiga da sociedade


Não há um pingo de felicidade ou orgulho em se afirmar que o órgão responsável pelo trânsito seja inimigo da sociedade. Mas os fatos demonstram que a CTTU trabalha, age, dorme, toma banho pensando somente em carros, não importa quem esteja dentro deles. Se alienígenas canibais dirigissem automóveis, é pra eles que a CTTU funcionaria. Tirando ações pontuais no Derby, Boa Viagem e Recife Antigo, o corpo técnico do órgão, os cabeças - começando pelo Secretário de Mobilidade -, os agentes, todos trabalham preocupados com o fluxo de veículos. Todo o resto, dos ônibus aos pedestres, é tratado de forma secundária por todo o órgão.

Nosso objetivo com esse post é demonstrar que não se trata de um exagero. Selecionamos alguns fatos que comprovam que a CTTU continua gerindo o trânsito, inclusive nessa nova gestão, num sonho de mobilidade inclusiva traduzida em "todos têm o direito de ir e vir com seu automóvel. Dane-se o resto!". Vamos aos fatos:

Estação com 10 bicicletas na calçada:
por que não tirar duas vagas de automóvel
em vez de ocupar o já reduzido espaço
de uns 15 pedestres?
1. As bicicletas de aluguel, que inauguraram a era Braga na CTTU, não são ideia de Braga. Vieram do governo do Estado + Itaú. Braga fez todo o possível para colocar todas as estações sobre as calçadas, não querendo perder uma única vaga de carro das trocentas mil que existem na cidade.


2. Indústria de multas. Ah, a indústria de multas... Você pode buscá-la no fim do arco-íris, pois pote de ouro não achará por lá. O mimimi motorizado tem mania de afirmar que tudo é indústria de multas. De radares de velocidade a carros multados em local irregular. Se o órgão de trânsito coloca radar de velocidade de 60km/h numa via que a velocidade máxima é 60km/h, vem a chiadeira. Mas na CTTU, o potencial produtivo de multas está muito aquém do quantitativo de infrações em Recife. A quantidade de fotos na internet de automóveis parados em ciclofaixas - até mesmo na ciclovia de Boa Viagem! -, sobre calçadas, em locais proibídos, é de perder a conta. E em locais onde antes era proibido, mas os motoristas começam a estacionar, a CTTU em vez de multar, coloca uma placa autorizando o estacionamento. Foi assim na Av. Rui Barbosa, na altura do Parque da Jaqueira, onde era proibido estacionar dos dois lados. A população reclamou dos carros estacionados no domingo e o órgão foi lá e colocou uma placa autorizando o estacionamento nos domingos, no horário da Ciclofaixa de Lazer. E os motoristas ainda estacionam nos outros dias da semana, sem problemas.
Já ocorreram também vários avisos ao Secretário de que os agentes são orientados a não multar em vários locais no Recife Antigo, na ciclofaixa de Casa Amarela, e em vários outros locais da cidade.


3. Desrespeito ao CTB pelos próprios agentes. Não param de ocorrer flagrantes de agentes da CTTU desrespeitando o Código de Trânsito Brasileiro. Viatura em cima de calçada, reboque da CTTU estacionado na ciclofaixa - e o agente disse que ia só rapidinho fazer um lanche do outro lado da rua - moto parada no semáforo em cima da faixa de pedestre, ameaças a pedestres e ciclistas, agentes se negando a multar infratores, dizendo sem vergonha alguma que não respeitam pedestre, e até viatura da CTTU tirando fino de ciclista!

4. Atendimento de solicitações. O atendimento pelo telefone 08000811078 é burocrático e demorado, com percentual de eficácia baixíssimo no atendimento. O Cicloação, juntamente com outros ciclistas, possui lista com dezenas de protocolos de solicitação de atendimento sem resultado.

5. Treinamento. Os próprios agentes, com raras exceções, ignoram completamente pedestres e ciclistas. O foco da CTTU é sempre a fluidez do trânsito. respeito ao pedestre e aos ciclista não é alvo dos agentes de trânsito. Não têm conhecimento das leis nem da estrutura da cidade, muito menos da missão deles na proteção dos mais frágeis no trânsito.

6. Infraestrutura. Mais de um ano de nova gestão e não foram criadas novas ciclovias e muito pouco feito pelas antigas. Novo edifício garagem é aprovado nas Graças e nenhuma vaga de automóvel em todo o Recife repleto delas foi retirada da rua. Nenhuma vaga de carro foi substituída por ciclofaixa, paraciclos ou bicicletários. Os únicos paraciclos instalados foram resultado de ação da Secretaria de Turismo, todos instalados na calçada.

7. Diálogo. Não há. Em momento algum o órgão procurou deliberadamente os usuários da bicicleta, seja através da Associação de Ciclistas Urbanos ou diretamente, para trocar idéias e experiências sobre transformação da cidade.

8. Ciclofaixa de Lazer. Ação da Secretaria de Turismo. Foi e é a grande oportunidade da CTTU relembrar aos motoristas a preferência dos pedestres e ciclistas sobre os motorizados. Encheu as esquinas da ciclofaixa de agentes para servirem de terceiro tempo de semáforo, em vez de darem preferência aos pedestres e ciclistas na conversão, como diz o CTB.

9. Gestão das informações sobre o trânsito. Qual a informação mais importante para a gestão do trânsito? Velocidade média? Quilômetros de engarrafamento? NÃO! Mortes no trânsito e acidentes com vítima! O trânsito de pessoas, independente do modal, deve ser antes de tudo, seguro. Mais importante do que chegar rápido é a certeza de chegar. Não há disponível na internet nem há organizado pelo órgão informações sobre mortes no trânsito dividido por modal, idade, gênero, local e motivo da morte. Não existe um mapa da violência no trânsito em Recife. Em documento de hoje do Observatório do Recife, temos a capital pernambucana como a 17ª capital com trânsito mais violento do país, para qualquer pessoa, e não para ciclistas apenas. É um número 2 vezes maior que São Paulo e 20 vezes maior que Amsterdam. Aos céticos da carrocracia que não aceitam o exemplo de Amsterdam, apesar de sua semelhança com Recife em vários aspectos, informo que a gestão das informações do trânsito, principalmente das mortes, é tratada com seriedade em várias outras cidades. Segue documento de 2010 de New York, totalmente focado na segurança do pedestre. Boa parte do que esse documento apresenta pode ser feito por qualquer órgão sério de trânsito. E a CTTU nem a SEMOB não fazem nada disso.

10. Respeito ao 1,5m. Recife continua sem nenhuma multa em sua história de desrespeito ao ciclista. Não existe multa por desrespeito ao 1,5m de distância - como se fosse necessário uma trena pra confirmar isso quando se passa a 5cm de distância - nem há multa por ultrapassar o ciclista em velocidade não compatível à segurança.

11. Zonas 30. No mundo inteiro uma das medidas que traz maior benefício para uma melhor qualidade de trânsito é a criação de zonas 30 (limitação da velocidade máxima a 30km/h com fiscalização e limitados físicos de velocidade como estreitamento de vias, faixas de pedestre no nível da calçada, lombadas físicas, etc), em regiões onde se quer favorecer o trânsito de pedestres e ciclistas, áreas residenciais, com escolas, comércio de bairro, etc. O Secretário de Mobilidade João Braga foi questionado sobre a criação de uma zona 30 em Casa Amarela, inclusive pelos moradores do bairro, e negou-se a avaliar o projeto seriamente. Nenhuma zona 30 está nos planos da CTTU, o órgão ignora avanços pró pedestres e ciclistas já testados em outras cidades. Não concordou com a implantação de zonas 30 nem mesmo em ruas onde a velocidade já é de 30km/h. Na Inglaterra, Estados Unidos, França, Dinamarca, Alemanha, as zonas 30 são o principal instrumento de humanização do trânsito.

12. Faixa azul. A prefeitura implantou a faixa exclusiva de ônibus da Cosme Viana e da Av. Mascarenhas de Moraes, proibindo a circulação de ciclistas nelas. A Ameciclo, associação de ciclistas urbanos do Grande Recife se pronunciou várias vezes a favor do compartilhamento, isso já funciona em várias cidades. É muito mais fácil treinar os 6000 motoristas de ônibus do que os 700.000 motoristas de motos e carros a compartilhar a via com os ciclistas. Houve um ótimo treinamento dos motoristas ministrado pelo consultor de mobilidade André Pasqualini, é visível a melhora do comportamento dos motoristas, mas o Secretário de Mobilidade municipal e os técnicos da CTTU, baseados somente em convicções pessoas, sem nenhuma argumentação fundamentada, insistem na proibição. A solução apresentada no caso da Mascarenhas é uma ciclovia na Avenida Arquiteto Luiz Nunes, uma via paralela, ignorando completamente o uso da Mascarenhas pelos ciclistas que trabalham ou visitam estabelecimentos da própria avenida. Além da velha ilusão do gestor de trânsito que não conhece a bicicleta de que o ciclista vai pegar o caminho mais longo por causa de uma proibição. Quem consome calorias leva o fator distância muito mais em consideração do que quem consome gasolina para se locomover. É uma proibição tão absurda como estabelecer calçadas de mão única para pedestres. Quem vai obedecer isso?

13. Carnaval 2014. Permitiu a passagem de carros pelo enorme trânsito de pedestres na Ponte Buarque de Macedo. Aumentou as vagas de automóvel no Recife Antigo em 25%, causando um caos na circulação dos ônibus de linha nos arredores da ilha. Mudou a localização de palcos e impediu a saída de blocos em certas ruas como no Pátio de Santa Cruz para evitar engarrafamentos, colocando o trânsito de veículos acima de uma festa popular que ocorre somente por alguns dias, em vez de auxiliar a passagem dos veículos juntamente com o trânsito dos blocos, ou indicar caminhos alternativos para o trânsito.

14. Som na Rural. Numa ação totalmente isolada e descabida, juntamente com a Polícia Militar, autuou a Rural de Roger num ato claramente político e de revanche, um evento que não surgiu do nada, que já estava consolidado. No mesmo dia uma viatura da CTTU parou na frente da rua Alfândega (rua peatonal na lateral da Igreja da Madre Deus), e mesmo vendo a rua transformada em estacionamento, nada fez. O mesmo descaso ocorre com a calçada na frente da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, na Praça do Arsenal, transformada em estacionamento pelo flanelinha e  constantemente ignorada pelos guardas que passam por ali.

15. Sinalização para ciclistas. Com exceção dos poucos kms de estrutura cicloviária da cidade, no resto da cidade inteiro não há uma sinalização qualquer que indique ao motorista a preferência do ciclista ou minimamente o direito do ciclista de usar a rua.

16. Canais de comunicação. No twitter, único canal de comunicação com a população que a CTTU utiliza constantemente, todas as mensagens são sobre engarrafamento ou acidente (o que acaba por ser sobre engarrafamento também). Dicas sobre legislação de trânsito que protejam os outros modais não fazem parte do repertório NUNCA. Chegaram a afirmar no twitter que pedestre tem que respeitar os carros ao atravessar a rua.

17. Semáforos e faixas para pedestre. Não há um semáforo para pedestre que acionado abra para o mesmo em 15 segundos no máximo. Pedestre em Recife não tem prioridade. Há semáforos com tempo de espera de até 8 minutos. Tudo em nome do fluxo de veículos, excluindo o pedestre do cálculo de fluidez no trânsito. Que tal incluir todos os outros modais além dos veículos motorizados nesse cálculo de fluidez? Que tal calcular a fluidez de pessoas? Há também uma grande quantidade de vias de alto fluxo de veículos onde não há travessia seja para o pedestre, principalmente faixas de poderes, em trechos longos para quem se locomove a pé.

E pra completar e corroborar as informações dessa lista exemplificativa, já que a lista de erros de gestão do órgão é infindável, algumas informações divulgadas no relatório do Observatório do Recife, que citei mais acima. Segue algumas imagens com dados relevantes sobre a mobilidade na capital.

Apesar da diminuição para o ano de 2011, o numero é alarmante. 3,92 mortes para cada 10000 habitantes no ano. Em São Paulo esse número gira em torno de 1,3. Em Amsterdam, o que podemos chamar uma boa de meta de segurança no trânsito, é 0,15.
Número de mortes com bicicletas permanece estável e alto. Intrigante a falta de informações sobre os números de 2012 ainda!
A única mudança de 2012 para os anos anteriores foi a ciclofaixa de Casa Amarela.
22% da receita do município vai para urbanismo. Além do recapeamento das ruas e o sustento da CTTU, pra onde vai o resto?

Afinal, 650 milhões de reais gastos com urbanismo. Com que qualidade de urbanismo? O que muda? Estamos transformando dinheiro em asfalto apenas? Cadê a inversão de prioridades? Cadê a transformação da cidade?
Por todo o exposto, não há nada diferente a dizer do que FORA BRAGA! E fora também o corpo técnico da CTTU, que não se atualizou no tempo e ainda pensa que trânsito é característica de veículos, quando na verdade quem transita são as pessoas, dentro ou fora de automóveis. Ou muda essa mentalidade, ou sentemos em nossos carrinhos, no ar condicionado, ouvindo música, e vamos aguardar o colapso da cidade. Pra quem acredita que ele ainda não chegou.