sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quem é o pedestre?


É aquele que sai de casa para andar pela sua cidade.
É o ser que se encontra entre o muro de 4 metros do prédio e o asfalto.
É o idoso que atravessa a rua correndo, enfrentando as dores do tempo, para não ser atropelado.
O pedestre é aquela pessoa que você sempre vê atravessando a faixa de pedestres correndo, com medo dos carros.

É aquele que passa no meio da parada de ônibus pois não há mais espaço na calçada.
É todos os cinco, doze ou oitenta subcidadãos que estão esperando por sete minutos uma luz verde acender para poderem atravessar seis faixas de avenida.
É também os cinco, doze ou oitenta cidadãos que não aguentam esperar sete minutos e invadem a avenida para chegar do outro lado. E ouvem as buzinas e freadas demonstrando o desprezo por tal revolta.
O pedestre é aquele que você vê atravessando a rua fora da faixa e acelera para ameaçá-lo, ensiná-lo a obedecer as leis de trânsito construídas apenas para facilitar a sua vida.

É também aquele que corre para atravessar a Praça do Parnamirim, mutilada para caber mais carros à sua volta.
Aquele que corre para atravessar a Domingos Ferreira, que tinha um canteiro central no seu início, e agora tem seis faixas de veículos em alta velocidade.
Aquele que corre para atravessar a Avenida Sul, no Cais José Mariano, enquanto os carros vêm em alta velocidade do viaduto das Cinco Pontas.
Aquele que corre jogando com a própria vida apenas para chegar do outro lado da rua, naquele ponto logo ali na sua frente, tão perto e ao mesmo tempo tão distante.

É aquele que respira a fumaça que você produz.
Que anda na calçada sem sombra porque a árvore foi tirada para você passar.
Aquele que sofre com o calor da cidade porque o asfalto se espalha por todo canto, tirando o verde e acumulando calor. Que sofre com o calor porque tem mais de 1 milhão de ares condicionados móveis jogando frio para dentro dos veículos e calor para a cidade.
Que tem sua roupa molhada e suja porque você passou perto dele, sobre uma poça, sem diminuir a velocidade.
Que tem que subir uma passarela para que você passe sem parar.
Que vê a cada dia seu caminho alterado, piorado, destruído, degradado, dificultado, complicado, pra você passar.

É aquele que vai andar pela cidade sem imaginar que você que está bebendo no bar, consultando no twitter e num aplicativo onde tem blitz, e vai arriscar a vida dele ao fugir da lei.
Aquele que morre porque você pisou demais no acelerador.
Que morre porque o órgão responsável pelo trânsito deixou você pisar demais no acelerador.
É aquele que está numa cadeira de rodas e não consegue acessar a Praça do Arsenal, a Praça do Derby, a Praça Flemming e várias outras praças e esquinas da cidade porque você estacionou seu veículo na frente de uma rampa de acesso para cadeirantes.

É o pedestre, aquele que está a caminho de casa, olha para a direita e vê do lado de dentro de um vidro, vinte pessoas correndo sem se mover, ohando em sua direção, sem percebê-lo. Ele olha para a frente e para trás na calçada e não vê ninguém.
É aquele que se sente inseguro porque a calçada está vazia de gente, enquanto a rua está cheia de veículos.

Prazer em conhecê-lo. Eu sou o pedestre, e não quero estar onde você está. Mas gostaria muito que você estivesse aqui ao meu lado.

Cezar Martins