segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Paul Walker: a morte de um símbolo da velocidade

Na noite deste último sábado de novembro, morreu um símbolo de uma geração marcada pela velocidade: Paul Walker, ator, 40 anos, era passageiro de um Porsche que se espatifou contra uma árvore e pegou fogo. Polícia suspeita - e imagino que vá se confirmar pelo estrago - que o veículo estava em alta velocidade.
Menos duas vidas
Paul tinha uma carreira brilhante. Começou novo fazendo comerciais e atingiu o sucesso com a série de filmes Velozes e Furiosos. Morre novo, e deixa uma filha de 15 anos. Mas não estamos falando de um ator qualquer. O seu maior sucesso, uma série de filmes sobre carros, mostra Paul como o mocinho anti-herói que vira herói, e que tem como principal habilidade dirigir muito acima das velocidades permitidas, e descumprindo todas as regras de trânsito. Curiosamente, em toda a série, o personagem de Paul nunca acerta um pedestre nem um ciclista. Nenhuma semelhança com a realidade é mera coincidência.

O filme, já pelo seu título Velozes e Furiosos, bebe da agressividade encontrada no trânsito em quase todo o mundo, e regurgita de volta para o seu público, esse desejo de velocidade, essa sensação maravilhosa - para uns - de impunidade e liberdade. Entretanto, em sociedade, a liberdade é fundamentada em limites para que não cerceie a liberdade de outros. Pedestres e ciclistas perdem cada vez mais espaço e se sentem cada vez mais acuados inseguros nas ruas, enquanto milhares de irresponsáveis aceleram em espaços públicos, ignorando os limites impostos por lei para a segurança da coletividade. Existe no motorista um sentimento de confiança em sua perícia, e o governo trabalha somente com as campanhas em torno da responsabilidade (ou respeito). Sobre a perícia, não é critério válido para esta permissão de ser veloz, não é à toa que o Detran não fornece Carteira Nacional de Habilitação (CNH) baseada na perícia em ser veloz. Existe carteira de motorista de acordo com o tipo de veículo,  que atesta que o motorista tem a habilidade de conduzir determinado tipo de veículo, sempre dentro dos limites da lei. Se considerarmos os grandes peritos em dirigir em velocidade, os pilotos de Fórmula 1, os mesmos dirigem em alta velocidade dentro de um circuito fechado com inúmeras regras de segurança, e mesmo assim são comuns os acidentes. Esses mesmos peritos de alto nível, têm a mesma CNH que qualquer mortal para conduzir seu veículo nas ruas das cidades, e as mesmas obrigações de respeito à velocidade. Portanto, a perícia não é um critério a ser considerado, apesar de muitos motoristas a declararem como motivo da licença pra ser veloz. A responsabilidade tem a mesma falha da perícia, é uma característica individual sem controle pelo Estado. Somos milhões de motoristas no Brasil, na Região Metropolitana de Recife, mais de um milhão. O Estado não pode contar com a perícia e a responsabilidade de todos. É função do Estado coibir o comportamento desses  supostos peritos velozes e irresponsáveis. Contra comportamentos nocivos individuais, regras para o coletivo têm que ser duramente impostas, com duras penas.

Entretanto, vivemos no país da indústria automobilística acima de tudo, uma opção política equivocada que traz inúmeras consequências econômicas, ambientais, sociais, de saúde pública, etc. Mas essa decisão não pode se traduzir na liberdade total do ato de dirigir. Essa ligação tem que ser cortada. 
Caubói da Marlboro, antes do câncer
Comparativamente, temos no Brasil um vilão extremamente atacado pelo Ministério da Saúde, com sua imagem destruída, que mal aparece em novelas, propagandas na TV, ou revistas. O cigarro paga impostos altíssimos e não se contesta a nocividade do mesmo para a saúde do indivíduo e em menor proporção para as pessoas ao seu redor. Foi proibido em aviões, bares, restaurantes, exibe em suas embalagens imagens e mensagens sobre os danos à saúde. O caubói da Marlboro, morreu de câncer em 1992. Em 2000, seu irmão cedeu ao governo brasileiro a imagem do caubói para a campanha "Sabe aquele caubói da propaganda do cigarro? Morreu de câncer. Cigarro faz mal até na propaganda."
O carro é nocivo, mata mais de 40.000 pessoas por ano no Brasil (uma epidemia!), de todas as idades e classes. Muitas vezes tira a vida de quem nunca dirigiu e está apenas a caminho de casa. Entretanto seus impostos são constantemente reduzidos, seu combustível é subsidiado, sua propaganda está presente em todos os meios o tempo inteiro, associada à sucesso, liberdade, potência; as prefeituras exigem vagas para automóveis nos estabelecimentos, e a maioria do espaço da cidade é destinada ao seu uso e guarda.

Paul Walker foi o caubói moderno do automóvel. Infelizmente servirá de exemplo  - assim esperamos - da forma mais trágica, com sua vida, assim como o caubói da Marlboro. Paul não morreu de overdose, de AIDS, nem de câncer no pulmão, morreu dentro de um carro em alta velocidade. Por sorte o carro onde estava não acertou alguém na calçada, pedalando ou em outro carro. Está na hora de reconhecer isso como uma questão de saúde e de segurança pública também. Morrer em acidente de carro não é uma fatalidade! Não foi acidente!


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