segunda-feira, 25 de março de 2013

Brincando de Amsterdã


"Um dia histórico para o Recife". Assim o governador Eduardo Campos anunciou hoje, em entrevista, dando o merecido destaque para o primeiro dia de funcionamento das ciclofaixas móveis de lazer em Recife. Um domingo atípico, numa cidade em que o uso do espaço público se restringe a esparsas praças e à praia. Olho da janela do meu apartamento antes de ir conhecer as ciclofaixas e vejo famílias inteiras pedalando, de skate, de patins, patinete; as pessoas aproveitando um espaço novo para curtir a cidade. 

Um Recife Antigo para as pessoas
É importante que todos tenham percebido a grande diferença nas ruas neste domingo histórico de março. Não ganhamos um parque novo, nem um lazer novo. Ganhamos de volta, por algumas horas, a nossa cidade. E retribuímos! Demos a ela a possibilidade de sair da UTI, e mostramos como é fácil fazer isso. Basta encher as ruas de gente! Uma cidade cheia de pessoas é mais segura no trânsito - menos carros circulando -, e também fora dele. Gente na rua é mais segurança para todos! A cidade estava mais viva, com as pessoas aproveitando a estrutura para irem com tranquilidade até o seu destino, para usar os serviços e o comércio em locais próximos à ciclofaixa. Vi o Café Delta do Recife Antigo aberto meio-dia em pleno domingo, um horário que o Recife Antigo não tem tradicionalmente ninguém! Uma família saía da cafeteria, outras pessoas estavam dentro ainda, confirmando que o mesmo estava aberto. Uma lição para todos os estabelecimentos no caminho da ciclofaixa: aproveitem esta demanda reprimida de gente querendo viver a cidade! Estamos brincando de Amsterdã! E descobrimos como isso é bom! Me lembrei do dono da Picanha do Futuro, que ano passado me disse enquanto eu e amigos discutíamos a possibilidade de ciclofaixa na rua do Futuro: "aqui mal tem espaço pra carros. Você quer fechar meu estabelecimento!". Ainda o verei sorrindo com as bicicletas paradas em frente ao seu estabelecimento e o bar cheio.

O ciclista deveria ter prioridade
Para a prefeitura, este foi um grande passo para a humanização da cidade, para a transformação de Recife em uma cidade de verdade, um espaço de convivência, mas a gestão do trânsito da cidade teve algumas feridas expostas. Para legitimar o discurso de que este é um primeiro passo para uma mudança de cultura de mobilidade na cidade, deve-se aproveitar a oportunidade para se educar os motoristas. Em vários momentos os agentes da CTTU paravam os ciclistas para que os carros na mesma via, no mesmo sentido, pudessem converter à esquerda, cortando a ciclofaixa, indo de encontro ao artigo 214 do CTB "Deixar de dar preferência de passagem a pedestre e a veículo não motorizado", infração gravíssima. Importante também foi ver a prefeitura reconhecer o perigo das velocidades. Em alguns trechos havia carros da CTTU e placas avisando que a velocidade máxima no dia de ciclofaixa não era mais 60km/h, mas 40km/h. Cabe ao prefeito demonstrar sua preocupação com o alto índice de mortes no trânsito em Recife - já passamos São Paulo faz alguns anos -, e repensar a redução e controle de velocidade na cidade para todos os dias, caso contrário faz parecer que a preocupação maior seria a segurança das pessoas apenas no domingo, para o sucesso do evento. Olhe para a foto abaixo, retire os cones e a placa de 40km/h. Você vê uma rua segura para ciclistas?

Prefeitura reconhece a necessidade de se reduzir a velocidade para a segurança


Para o ciclista do dia-a-dia, este domingo foi especial, mas foi também um pouco assustador. Ao usar uma estrutura tão essencial para a nossa segurança, sentimos a diferença entre o estado de alerta permanente em que pedalamos e a felicidade de fazer o seu caminho de forma tranquila, encontrando as pessoas no meio do caminho, olhando para a cidade. Mas nesta segunda, certamente enfrentarei o trânsito com um pouco mais de medo, depois de ser lembrado como é transitar de forma segura. Ainda no Recife do passado, mas também neste domingo, outro ciclista morreu atropelado no coração da cidade, em plena Avenida Agamenon Magalhães. Um senhor de 72 anos, que ia de Santo Amaro para comprar mercadorias em outro ponto da cidade, e não tinha uma ciclofaixa no seu caminho. A contagem fria de mortos não pára de crescer, batendo na cara do ciclista "acorda! Aqui não é Amsterdã!". Sobre ser um dia histórico para o Recife, só poderemos afirmar quando a mudança de verdade chegar, confirmando que 24 de março de 2013 foi o primeiro passo de uma grande mudança, e não apenas um belo dia a ser lembrado. Pra mim, está tudo muito claro na memória ainda. Acordei nesta segunda-feira com as buzinas impacientes de sempre, e com saudade dos cones e do Recife de ontem.

Cezar Martins

sábado, 16 de março de 2013

Metade Bogotá, metade Los Angeles



Los Angeles, mais vias, mais viadutos: mais engarrafamento


Que Recife chegou ao caos no trânsito não é novidade. Na verdade esse caos é uma realidade antiga, porém notícia nova. Para usuários do transporte público, um caos de ineficiência. Para ciclistas e pedestres, um caos de insegurança. Agora os jornais noticiam o caos para os usuários do carro. E então a pauta das discussões sobre os problemas da cidade se polariza em mobilidade. E com grande prejuízo para as outras pautas necessárias.

Vi certa vez no Blog Acerto de Contas apelidarem Recife de Bagdami: Miami na frente, Bagdá nos fundos. No trânsito de pessoas, estamos entrando na era Bogotangeles: soluções Bogotá com mentalidade Los Angeles, a meca dos carros. Se você é viciado em carros, depende deles, vá conhecer Los Angeles, não vai querer sair de lá! Pensando em mobilidade, buscando soluções para o engarrafamento - sim, pois sem engarrafamento, ninguém pensava em mobilidade - comitivas de políticos e gestores têm ido a Bogotá tentar aprender com os colombianos as soluções para o trânsito das cidades. Mas tenho certeza de que fizeram escala em Los Angeles também. Em TODAS as medidas voltadas para a mobilidade anunciadas pelos gestores municipais, seja na gestão passada, seja na atual, há um bate e assopra na classe média motorizada. A cada pronunciamento dos secretários e outros gestores da Prefeitura e do Governo do Estado, podemos perceber um medo da classe média, receio de que esta apareça na frente da prefeitura com espetos e foices pedindo a cabeça do prefeito. Como se houvesse força de mobilização nesta parte da classe média. Vide MMH, Movimento da Mobilidade das Hilux. Fracasso anunciado.

O que tivemos em Bogotá foi justamente uma inversão de prioridades. A solução da capital colombiana não foi BRT, foi tirar espaço dos carros para BRT. Não foi ciclovias mais calçadas, foi priorizar o dinheiro público para elas em detrimento das vias para automóveis. Veja o ex-prefeito de paletó e bicicleta, comentando sobre isso aos 4min50seg no video Urbanized. 

Já Los Angeles, estive em 2011 nesta cidade para carros e pretendo não mais voltar. Cidade abarrotada de viadutos e vias de seis, oito faixas para carros. Ruas sem ninguém, pelo que pude ver da janela do ônibus entre a ferroviária e o aeroporto. Quis ir do aeroporto para conhecer Hollywood e a única opção viável era alugando um carro. Passei seis horas no aeroporto fazendo nada.

Para reforçar esse meu ponto de vista, resolvi enumerar as principais soluções Bogotá style aplicadas e propostas para Recife, e as respectivas assopradas L.A. style. Há dois tipos de aliviada nas ações da política contra os carros: a pensada pelo governo, quando este deliberadamente toma uma medida pra aliviar a pressão nos motoristas; e a omissão, quando o governo deixa de tomar uma medida mais dura tendo esta oportunidade. Vejamos as medidas anunciadas:

- Corredor de ônibus ou faixa exclusiva na Domingos Ferreira > a prefeitura se diz preocupada com o transporte coletivo, mas já anunciou várias vezes que só coloca faixas exclusivas para ônibus na Av. Domingos Ferreira quando a Via Mangue estiver pronta. Só resolve o problema da população dependente do transporte público quando criar alternativa para os carros. Vejam que estamos falando de quatro novas faixas exclusiva para carros na Via Mangue - já foi anunciado que ônibus não passará por lá - em troca de uma ou duas faixas exclusivas de ônibus na Av. Domingos Ferreira.

- BRT na Agamenon > O BRT vem como a solução mágica para o transporte. Em nome dele, vale tudo. Na justificativa de tirar os sinais da Agamenon, para melhorar a circulação do BRT, vale colocar passarelas no meio da cidade para o pedestre e o ciclista perderem tempo, conforto e segurança no transitar. Seguindo o mesmo mantra BRT, coloca-se quatro viadutos cruzando a Av. Agamenon Magalhães para que os carros não parem. Mas tudo seria resolvido se os BRTs usassem alguma solução tecnológica de controle dos semáforos, por exemplo, fazendo o trânsito de carros pararem para a passagem dos BRTs e dos pedestres. Mais uma vez, temos de um lado os carros, e do outro o transporte público, e os pedestres.

- Retirada de carros estacionados das ruas > Os gestores foram a Bogotá, mas não devem ter falado com Peñalosa, ex-prefeito que disse “estacionamento não é um problema do governo. é um problema privado”. Em Recife, a retirada das vagas da rua virá acompanhada de 17 edifícios garagem, muitos deles localizados em áreas de destino dos carros já hoje. Construídos com dinheiro público. Os motoristas continuarão enchendo as ruas de carros até o trabalho, só terão um trabalho um pouco maior para ir do edifício garagem ao trabalho.

Times Square, NY: antes para os carros, depois para as pessoas.
- Rodízio de veículos > O secretário de mobilidade anunciou nesta quinta-feira (14/03/13) no Fórum sobre Mobilidade Urbana, realizado na Fafire, que a prefeitura estuda a implantação de rodízio de veículos em Recife. Ótima medida paliativa implantada em várias cidades. Mas em Bogotá, além de rodízio, temos no início de fevereiro, o Dia sem Carro. Neste dia, das 6h30 às 19h30, não podem circular veículos particulares, sujeitos à multa e apreensão da carteira de habilitação. Esta medida surgiu depois da reestruturação do transporte público e da construção de ciclovias. Aqui a prefeitura não sinaliza nenhuma medida nesse sentido, e pela atual pisada, não me parece algo planejado para o nosso futuro. Lembrando que o rodízio, aplicado isoladamente, é uma medida que favorece bastante o trânsito de carros, sem grande efeito nos usuários de ônibus, ciclistas e pedestres.

- Bicicletas de aluguel > O sistema tem funcionado no mundo inteiro, mas em cidades como Bruxelas, onde não vieram acompanhadas de medidas restritivas ao uso dos carros, e de estrutura cicloviária, têm se mostrado uma opção ao pedestre, não tem servido de substituição ao carro. Em Bogotá, se priorizou o investimento em calçadas e ciclovias. Há ruas esburacadas para os carros, e ao lado temos calçamento e ciclovias em ótimo estado. Peñalosa afirma que “quando tivermos dinheiro para melhorar a rua para os carros, nós faremos. Mas a prioridade é o pedestre e o ciclista.”

Como podemos ver, a ida dos gestores à capital colombiana os fez aprender soluções de melhoria da cidade para as pessoas, mas todas estão sendo aplicadas, sempre no limite de não forçar ninguém a sair do carro.
A ideia de que tem que melhorar todos os outros modais, sem piorar nada para o carro só funcionaria se os modais não interagissem no trânsito. Ônibus presos no engarrafamento, pedestres esperando 10 minutos o semáforo de uma faixa de pedestres abrir, ciclistas sem estrutura adequada, não são problemas em tubos de ensaio separados, são apenas alguns dos muitos custos sociais impostos pela carrocracia. Há que se resgatar o equilíbrio perdido no uso do espaço público.

As ideias utilizadas em Bogotá combinadas a uma mentalidade Los Angeles style geram soluções meia boca para a mobilidade no Recife, pois não contemplam a realidade de que é necessário tirar espaço e privilégio para os carros, não por uma perversidade, mas para correção da perversidade que foi feita ano a ano na cidade com todos os outros que não utilizam o carro. Estamos todos no mesmo tabuleiro e a melhoria pra valer de todos esses outros modais passa necessariamente pela piora da situação de quem usa carro. Vai doer.

Cezar Martins

sexta-feira, 15 de março de 2013

Aquele caso


"Mas, teve aquele caso que o menino tava todo errado, atravessando a faixa com o semáforo aberto..."
Pronto! Aquele caso virou agora um ponto de referência, lascou. Toda vez que um ciclista for atropelado vão lembrar daquele caso, daquela vez que o cara passou um semáforo e foi arremessado a 20 metros de distância.

Uma pena que só querem crucificar quem nunca teve educação para o trânsito, quem nunca teve uma orientação, quem tem um semáforo que passa 5 minutos fechado para si. Que pena que querem colocar a culpa de um anulando a culpa do outro.

Pena que não vêem que o que mais está se falando por aqui não é a culpa de ninguém, e sim o absurdo de que tenhamos que conviver com velocidades dessas debaixo de nossas fuças. Velocidades muitas vezes legais, porém incompatíveis com a vida em comunidade e com a alta densidade populacional.

Não vêem o perigo e as consequências dessas velocidade, da possibilidade de crianças correndo dos braços das mães e motoristas sem conseguir frear suas máquinas de ferro. Toneladas de ferro levam tempo para frear, e por isso tem-se que reduzir as velocidades máximas ao máximo, para quando um erro de um ou de outro ou de ambos ocorrer não se tornarem mais um d'AQUELES CASOS.

Daniel Valença

segunda-feira, 11 de março de 2013

O ponto de mudança

para a CTTU, com todo o meu amor

Recife, quinta-feira, 7 de março. Um garoto de 16 anos imprudentemente atravessa uma faixa de pedestres em Boa Viagem, sobre sua bicicleta. Ele e vários outros pedestres fazem o mesmo: atravessam a rua com sinal verde para os carros. Todos culpados. Condenados previamente, por sua condição no trânsito. Mas só o garoto paga pelo seu crime. Um crime hediondo: atravessar a rua no sinal verde, sem olhar para os lados. O pagamento foi justíssimo para tal crime: a própria vida. Os outros pedestres saem impunes. Tremenda injustiça. Deveriam morrer todos. Suicidas! Culpados de atravessar a rua feito loucos, irresponsáveis!

Essa lógica perversa tem predominado nos meios de comunicação e nas redes sociais, além de claro nas conversas de corredor. “O ciclista foi imprudente. Ponto final”. Não. NÃO! Não podemos concordar com isso. Isso tem que ser ponto de mudança! “Foi um acidente, uma fatalidade”. Será? Vamos às notícias do fim de semana... Sexta-feira, um dia após o atropelamento do jovem em Boa Viagem, um ciclista experiente está parado no sinal, na Rosa e Silva, uma moto vem por trás dele e o derruba. Fura o sinal e segue em frente. O ciclista cai embaixo do ônibus. Pedestres desesperados batem no ônibus para avisar ao motorista que tem alguém embaixo do ônibus. Por pouco o ciclista não perde as duas pernas. Deveriam gritar “Este não merece morrer! Este não!”. Foi absolvido. “Foi um milagre!”, disse uma pedestre que ajudou a socorrê-lo. Saiu barato. Queimadura de terceiro grau nas duas pernas. Claro, o crime foi menor. Ele apenas se atreveu a se locomover de bicicleta na rua. Um insolente! A namorada do ciclista entra em contato comigo e no meio da conversa, uma frase me faz gelar: “não sei se tenho coragem de pedalar na rua de novo”. Na frente do computador, eu não consigo pensar em motivos para escrever qualquer coisa que a motive. No mesmo dia, sexta-feira, na Imbiribeira, outro ciclista atropelado. E no fim de semana, pedestre atropelado na Estrada do Arraial. Em Boa Viagem, outra morte. Misteriosamente, no trecho inicial da Domingos Ferreira, aparece o desenho em contorno branco de um corpo no chão. Algum pedestre - outro insolente! - se atreveu a atravessar no trecho que tiraram o canteiro central. Veredito: CULPADO! Culpado por enfrentar seis faixas de veículos, colocadas no meio da cidade. Elas são um claro recado para o pedestre: “Saia daqui! Aqui não é o seu lugar!”. Então, será que tantos acontecimentos são fatalidades? Acidentes?

Temos em Recife uma divisão clara e impositiva do espaço para os carros e para as pessoas. Entretanto, mais do que um ordenamento do trânsito, há verdadeiros muros virtuais. As condições de uso do espaço geram uma barreira, um abismo. Consigo visualizar claramente as calçadas estreitas, e entre elas, em vez de asfalto, um precipício de 200 metros. As faixas de pedestre são pontes de madeira podre, com ventos de 60, 80km/h que podem passar a qualquer momento e te jogar para o fundo do abismo. Os semáforos são meras flâmulas que te dão uma precária segurança de que nesse momento os ventos estão calmos, normalmente por apenas 15 segundos. Simplesmente acredite, e corra. Corra pela sua vida! Pode se arriscar na ponte (faixa). E ai de você que tente atravessar a ponte com a flâmula dançando. É abismo na certa. Os ventos não param por nada. Os ciclistas? Rá rá rá! Aviões de papel de seda, loucos que insistem em invadir o espaço que não foi feito pra eles. E não foi MESMO.

Voltando à realidade de nossa Recife carrocrata... Quem dera fossem ventos o que temos rodando a 60, 80km/h pelas ruas! Em vez disso, são 600.000 objetos de 1 tonelada ou mais, verdadeiras navalhas afiadas, passando sempre a centímetros de nossos pescoços. Errou, morreu. Ou errou, matou. “Foi apenas um acidente. Acontece.” Mas acontece mais do que deveria. Nosso nível de aceitação a “acidentes” de trânsito está muito alto. Por ano, em Recife, morrem 15 pessoas por cada 100.000 habitantes no trânsito. Em Amsterdam, esse número é de 1,5. Olhamos para o trabalho da CTTU (Companhia de Trânsito e Transporte Urbano de Recife) e da Secretaria de Mobilidade e o que vemos são informes sobre acidentes e engarrafamentos, proibição de retornos, operação tapa-buracos, acreditando cegamente que a engenharia de tráfego pode resolver todos os problemas. O fluxo de carros é a menina dos olhos da CTTU, não importando sobre que poça de sangue ela transite. Não há nenhuma relação dos órgãos de gestão do trânsito com os dados sobre mortes no trânsito em Recife. Se para cada xxx mil veículos que passem por um bairro, houver apenas um atropelamento, a conta bate para a prefeitura. Aquela pessoa que recebeu a cacetada de uma tonelada de ferro é efeito colateral.

Pois eu declaro então abertamente que a CTTU - e consequentemente a Secretaria de Mobilidade - tem sua grande parcela de responsabilidade com as mortes, os atropelamentos e todos os eventos de trânsito em Recife, não só os engarrafamentos. Estes, por sinal, são no geral culpa de quem coloca o carro na rua todos os dias. A CTTU não tem capacidade de resolver isso que todos esperam que seja sua única função. Órgão nenhum tem. E desafio a CTTU a assumir esse corajoso posicionamento. Gestão do trânsito não  se resume a fazer veículos se moverem mais rapidamente. Assuma sua culpa pelas mortes decorrentes do modelo de mobilidade adotado. Tenha a coragem de trocar o fluxo insano de veículos pelo fluxo seguro de pessoas. E inclua em suas estatísticas, em suas malfadadas metas, a estatística de mortes e atropelamentos no Recife, e a consequente meta de diminuição desses eventos. Porque enquanto a meta for fluxo de veículos motorizados, o órgão está excluindo de início todos os ciclistas e pedestres, além de subvalorizar as 30 a 100 pessoas que estão dentro de um ônibus. Ou a CTTU se torna nosso ponto de mudança, com inúmeras ações pró pessoas que nem vou me preocupar em destrinchar neste texto, ou ela é o ponto final da mobilidade no Recife. Um ponto final para todos nós. E nessa realidade, não vejo utilidade nenhuma para o órgão. Nessa realidade, minha sugestão para a Prefeitura é a implosão do prédio da CTTU e a construção de um cemitério em seu lugar. Vamos precisar.

Cezar Martins
cidadão, às vezes ciclista